terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O que era antes para que chegassemos ao agora... nossa trajetoria ateh o inicio do homeschooling

Uma das maiores preocupacoes da minha vida iniciaram quando, ainda gravida do Kiyo, me vi pensando sobre quando ele crescesse e tivesse que frequentar uma escola. Essa ideia me assombrava muito, principalmente pois na epoca moravamos no Brasil e educacao domiciliar nao eh algo aceito socialmente (nem legalmente ainda). Depois que ele nasceu, eu me distraia com o dia-a-dia da maternidade. A realidade da "vida escolar" e das historias de horror que eu ouvia de pais, professores e alunos me rondavam de tempos em tempos. Mas como tinhamos o compromisso de nao coloca-lo em creches antes que fosse realmente necessario, tentava nao pensar muito nisso.

Confesso que era dificil nao pensar sobre esse assunto tendo vindo de uma familia que tanto preza a educacao. Eu sabia que queria algo diferente pro Kiyo, mas - no modelo tradicional de educacao a que tinhamos acesso no Brasil - nao parecia ser algo muito promissor.

Quando Kiyo tinha pouco menos que 2 anos, eu estava fazendo um curso de especializacao em educacao ambiental. E por conta disso, tivemos a oportunidade de conhecer um espaco diferenciado de ensino. Uma escola "bicho-grilo" que tivemos o prazer de conhecer, onde as criancas tinham liberdade para explorar o conteudo da forma que lhes ajudasse a aprende-lo. Professores eram vistos como facilitadores, e o natural era bem visto e bem aproveitado. Criancas iam para suas casas livres de "tarefas de casa" e com tempo para poderem curtir suas familias no pouco tempo que lhes restava. Tivemos o impeto de iniciar algo parecido, com enfoque ambiental, mas nao vingou no Brasil e nem na nossa situacao naquela epoca.

Mudamos para os EUA quando o Kiyo tinha 2 anos e meio. Num novo pais e sem "ajuda" de parentes, nossa promessa de que nao tercerizariamos a educacao do Kiyo se tornou ainda mais desafiante. Revezamos dias, horas e afazeres para que pudessemos estar (pelo menos um de nos) com ele em casa. E nesse tempo em que estavamos em casa com ele, faziamos o que podiamos para ocupar seu tempo com muita brincadeira, descoberta, encontros e experiencias unicas. Ateh que um dia...

Quando o Kiyo estava com 3 anos e meio, decidimos que talvez fosse uma boa ideia comecar a procurar uma escola/daycare para ele. Eu estaria iniciando o mestrado e precisaria de mais tempo fora. Jeff tambem estava ampliando suas atividades e tambem precisava maior concentracao em outras coisas. Imaginavamos que iriamos conhecer quantos espacos fossem preciso e que tomariamos uma decisao para dali 6 meses ou 1 ano. Nao imaginavamos o que estava por acontecer...

Quando chegamos na visita, Kiyo ficou pasmo. Primeiro, de forma timida, seguia nossos passos. Mas quando viu outras criancas e o tanto de brinquedos e atividades que eles tinham, ficou embasbacado. Resultado: nao quis voltar pra casa. Chorou e pediu pra voltar pra escola.

Nao foi nessa primeira escola que Kiyo iniciou sua vida escolar. Tivemos uma imensa sorte - ou bencao mesmo - de encontrar um lugar bem proximo a nossa casa e de preco bem acessivel. Fizemos sua matricula e de inicio achavamos que ele ficaria no maximo 3 dias por semana. Mas foi no primeiro dia de aula que percebemos que nosso baby nao era mais baby. Ele viu a salinha e entrou sem nem se despedir. Tivemos que chama-lo para dar um beijo e tchau.

Apesar de nao concordar 100% com toda metodologia usada na escola, estava mais tranquila sabendo que ele gostava mesmo de estar lah. Todos os "problemas" eram lidados de forma justa e a escola era bem aberta a novas ideias. O espaco era aberto para pais e maes ficarem junto com seus filhos se assim quisessem. E isso me deixou muito tranquila. Pensei cah com meus botoes: "Pelo menos por enquanto estamos tranquilos e ainda nao eh preciso fazer homeschooling."

Apesar de me encantar com a ideia da educacao domiciliar, essa possibilidade me deixava um tanto insegura. E se pudesse, adiaria ao maximo essa realidade.

Kiyo passou quase 2 anos nessa primeira escola. Fez varios amigos, e conquistou muitas professoras. Ateh que chegou o momento em que teriamos que muda-lo de escola. Mudamos de casa para que pudessemos coloca-lo numa escola com boas credenciais.

Aos cinco anos recem feitos, Kiyo ingressou no kindergarten na escola publica local. Conhecemos a sua professora, que por sinal nos deixou bastante tranquilos em relacao ao aprendizado dele. Algumas questoes sempre ficam pendentes, mas no geral a professora sendo bacana jah era um bom comeco.

E foi no Kindergarten, apesar da professora sensacional que ele tinha, que comecamos a rever quando realmente deveriamos iniciar o ensino domiciliar. Foi ali que percebemos que a professora ser bacana nao seria o suficiente. Ela tinha que obedecer as regras de um sistema falido, fadado a produzir meros robozinhos. Os mesmos robozinhos que um dia estariam em minha sala de aula na universidade. Isso nos nao queriamos para o nosso Kiyo. Queriamos (e ainda queremos) que ele encontre seu proprio destino, e que para isso ele tenha todas as ferramentas necessarias.

Nesse sistema educacional que poda a criatividade, nivela por baixo e padroniza o conhecimento (se eh que se pode chamar o que eles apresentam na escola como conhecimento), Kiyo estava continuamente abaixo do padrao exigido para sua serie. Ele nao se enquadrava, nao cabia no molde quadrado do sistema. E eles nao sabiam o que fazer com ele.

Resolvemos dar uma chance, jah que a professora do Kindergarten tinha sido tao boazinha. Entao Kiyo foi para seu primeiro dia de aula como aluno do primeiro ano. Jah de cara percebemos que a professora nao era mais aquela figura docil e compreensiva que foi a anterior. Dessa vez, Kiyo se deparou com uma professora bem nos moldes do sistema. Alguem que sabia bem como "dancar conforme a musica deles", e que sabia como "moldar os alunos" tambem. Fiquei com os dois pehs atras quando fomos encontra-la pela primeira vez. Ela nao ouvia as perguntas direito pois ficava impacientemente interrompendo quem tivesse qualquer sotaque estrangeiro. Saih da primeira reuniao com uma impressao bem ruim da nova professora. Alguem que se entitula "boa no que faz" sem um pingo de humildade nao me transmite confianca.

Foi ao fim do primeiro dia de aula que Kiyo (no caminho de casa) proclamou: "Nao quero ir pra escola amanha!" E foram duas ou tres semanas em que ele relutava durante todo o trajeto ateh a escola. Conseguimos aos poucos que ele nos contasse seus motivos, e fomos pegos de surpresa: "Os meninos chutam minha mochila no corridor. O fulaninho nao deixa eu comer meu lanche na hora do almoco. O fulaninho fica brigand comigo. O fulaninho me chutou."

Marcamos reuniao com a professora. Essa reuniao (que teria sido apenas uma conversa com a professora), passou para uma conversa com o vice-director e a psico-pedagoga. Ateh aih, tudo bem... deu a entender que levaram o assunto a serio. Soh que assim que entramos na sala para conversar, os tres funcionarios da escola passaram a dar indiretas (ou bem diretas) que estavamos fazendo tempestade em um copo d'agua. Segundo eles, estavamos super-protegendo o Kiyo por ele ser nosso unico filho. A professora, que se dizia super "capacitada", apresentou alguns problemas com a leitura do Kiyo. Ela dizia que ele nao estava atingindo as metas esperadas. Entao disse que ele leu uma palavrinha (SIM, UMA) de forma errada. Quando ela repetiu a palavra, reconhecemos que era a pronuncia da palavra em portugues. Ela disse que deveriamos cuidar para que ele nao repetisse aquele "erro". Ficamos cada vez mais com a pulga atras da orelha.

Kiyo cada vez menos se interessava pelas atividades escolares. Para ele, aprender era chato, tedioso e sem graca. Ele tinha perdido o brilho no olho para o aprendizado. Seu interesse e curiosidade naturais de uma crianca tinham sido estirpados. Ao ver aquilo, tomamos a decisao final. Iniciariamos o ensino domiciliar antes do fim do ano letivo.

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